
Nesse
contexto das bocas caladas me deparo com o ato de pensar, pensar em como
reagir. Sinto a impotência introspectada frente os “poderosos” que castigam e
intimidam as palavras sonhadoras que os pais apresentam como objetivo de vida a
seus filhos, ou seja, a máxima de que se eu fizesse um pouquinho e assim todos
também o fizessem, mudaríamos o mundo.
Triste
por ver que isso não é fato, triste por ver tudo ruir no barro que derrete
sonhos e vidas, de constatar que há tantos escravos permanentes nesse mundo
vil, um mundo metalizado pelo dinheiro podre, dinheiro escravagista. Mundo
selado nas entranhas do desprezo a vida e a dignidade humana usado como moeda
de troca pela riqueza sangrenta.
Bocas
caladas é o que acontece com nosso povo, presos pelo poder de alguns. Vidas
tomadas pela ganância dos dominadores. Sonhos selados nas camas dos sufocados
pela lama das Marianas e Brumadinhos.
Penso,
repenso e não encontro consenso entre o sonho e a realidade. A impotência
encobre a ação da liberdade.
São
tantos os pensamentos represados, são tantos os desejos de viver com dignidade,
são tantos caminhos a percorrer, mas não consigo dar passos, amarrado na roleta
viciada somente para alguns jogadores.
Na
tristeza das Marianas e Brumadinhos fico amarrado no canto da racionalidade,
fico estupefato pela opressão a meu povo, fico esperando a luz para iluminar
cabeças pensantes.
Não
há o que dizer, afinal sou parte das “bocas caladas”, sou parte da massa que se
abaixa para a avalanche da lama, o que fazer?
Talvez
escrever, talvez exprimir minha revolta, talvez estourar a represa de meus
pensamentos, talvez colocar em texto aquilo que penso e tornar claro a parte
que aprendi, fazer um pouco para que todos façam muito.
Vitimas
somos todos os dias, dos acidentes de nós mesmos, dos transbordamentos de
nossas impotências, mas que bom que depois de uma noite existe o amanhã, o
nascer do Sol, mais uma esperança, mais possibilidades de remover montanhas.
Hoje,
quero enterrar os desesperos, as decepções, os devaneios e quero sim gritar:
Viva a vida, quero estilhaçar as cordas vocais e falar a quatro ventos: “Eu
posso transformar o mundo, eu devo fazer a minha parte, devo insistir nos
preceitos dos ensinamentos recebidos.
Se
uma andorinha não faz verão, seus filhos juntos o farão. Vamos em frente e
avante caminhando e seguindo a canção.
Não
nos deixemos transformar em Marianas e Brumadinhos, temos que buscar o Édem,
aquele mundo descrito em Gêneses, onde rios são correntes de mel e todos vivem
bem, sem pecados, sem medos.
Vamos
acender nossas velas, somando a luz para que seja um facho de transformação.
Feliz renascimento a você, saiamos do conforto de manter a boca calada e
coloquemos a “Boca no Trombone”
Vitor Marques
Executivo de RH, Coach e Palestrante