(Homenagem aqueles de fazem do pão a um forma de comunicação e arte)
Um dia eu cheguei a pensar que o bem-sucedido era aquele que buscava um objetivo sem nunca deixá-lo de lado. Se você pensa assim, como eu já pensei, está enganado. Foi o que eu aprendi quando fiz um curso de padeiro e confeiteiro. O curso não me ensinou somente a fazer massas de pães ou preparar qualquer tipo de cobertura de confeitaria, me ensinou que o caminho para atingir um objetivo não é persegui-lo obstinadamente. Com toda a minha empolgação com a arte dos pães, a primeira vez que eu fui sovar uma massa parecia um iniciante ansioso em uma aula de artes marciais. Socava a massa como o lutador ansioso querendo golpear qualquer um que apareça na sua frente. O professor me chamou a atenção. Eu coloquei tanta força que venci a massa por nocaute e ela quase não chegou ao forno. Revi a intensidade.
Logo que a massa ficou homogênea e na textura certa, eu já queria levá-la ao forno e ver o pão assado, quando me lembraram que a massa tinha de descansar para poder crescer. O objetivo era ver o primeiro pão francês assado, feito com as minhas próprias mãos. Ao deixar a massa descansar tive de deixar meu objetivo de lado. Aguentar não fazer nada por ele por um tempo. Tolerar uma hora que me pareceram demorar como se fossem cinco. Levei essa lição para a vida. Boa parte do que fazemos tem a hora certa de sovar e um intervalo mínimo para descansar. Uma porção de coisas funciona melhor assim, respeitando um intervalo de tempo entre uma ação e outra. Ao fazer uma dura crítica a alguém na esperança que de a pessoa mude, precisamos dar tempo para que ela mostre (ou não) uma mudança de conduta. Se não dermos esse espaço, apenas criamos as condições para que ela não aguente tanta pressão, não dê conta de mudar e desista.
Quando escrevo um texto, depois de um tempo na redação, deixo-o guardado na gaveta (ou no arquivo do computador) para me distanciar do seu conteúdo e poder enxergar o que ainda não está bom. Quando eu não dou um tempo na revisão e fico relendo repetidamente, passo a não enxergar os erros de ortografia ou a falta de clareza em algum trecho. Mesmo os objetivos mais grandiosos e arrojados precisam ser deixados de lado em alguns momentos. Não pensar antes de agir é impulsividade. Não conseguir deixar uma ideia de lado é obsessão. Não saber se segurar é compulsão. Os sentimentos não suportam ter de controlar o incontrolável. Há momentos em que a melhor opção é deixar o tempo passar, a cabeça esfriar e esperar que as contingências fiquem mais propícias para, então, se comportar. A despreocupação também faz parte do processo de atingir uma meta.
É nos momentos em que nos desobrigamos a pensar somente na produtividade que conseguimos encontrar a criatividade para solucionar algum entrave ou pensar em algum acabamento alternativo. O excesso de preocupação só atrapalha, como me atrapalhou a afobação de querer ver o pão assado.
É num momento de despreocupação que a massa cresce. E pra fermentar uma ideia e transforma-la em realidade é preciso saber a hora de sovar a massa – agir – e a hora de descansar – dar espaço para que as coisas aconteçam ou se desenrolem. Não sabe identificar qual é o momento certo de cada coisa? Faça um curso de padeiro. Além de aprender a fazer pães, descobrirá o que é ser padeiro das emoções.
UM CAFÉ E A CONTA! Massa, recheio e cobertura precisam entrar em concordância. A cobertura não pode ser mais vaidosa do que a massa. O recheio não pode chamar mais a atenção do que a cobertura.
- Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, Caderno Dois, p.4, 03/08/2013, Edição Nº 1263
Executivo de Recursos Humanos. Palestrante. Escritor "O horizonte visível é apenas um detalhe para aqueles que enxergam mais longe" Você já sorriu hoje?
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