
Vou falar dos caminheiros, não dos
motoristas (seja de qualquer veículo) que estão sem seu precioso veículo de
locomoção e perpetuação do marasmo fisiológico, do instrumento para produção de
barrigas protuberantes, da produção de artrites, artroses e outras coisinhas
mais.
Quem são os caminheiros? Somos todos nós
que no impedimento de utilizar nossos veículos nos colocamos a resgatar o
caminhar, redescobrimos que a padaria, o supermercado não é tão longe assim,
que caminhar faz você apreciar a paisagem com mais cuidado, que há pessoas pelo
caminho e que você nem sabia que existiam. Nesses dias você reencontrou seu
vizinho, aquele amigo que há muito não via porque não dava tempo de vê-lo no
borrão do deslocamento com seu veículo.
Os caminheiros, que somos todos nós,
redescobrimos aquela casa, a praça, o jornaleiro que fez parte de nossa
infância ou de nossos anos passados.
Na arte do caminhar resgatamos um pouco de
nossa saúde e as artrites e artroses até se aliviarão, vão perder a força
porque serão trocadas pelo prazer do caminhar, do resgatar nossa memória
geográfica de onde vivemos e como chegamos lá.
Nada de ir conhecer paisagens distantes,
de ir almoçar ou jantar em bonitos restaurantes, o que fizemos nesses dias foi
cozinhar, imagina, descobrimos que isso é possível! Fazer nossa própria comida,
escutar seu próprio coração, ter tempo para você e seus familiares.
Tiramos do porão a bicicleta, mesmo que no
começo das pedaladas tivéssemos que redescobrir o equilíbrio, descobrimos que a
máxima de quem sabe andar de bicicleta jamais esquece é verdadeira. As
primeiras pedaladas foram difíceis, mas no decorrer do tempo tornaram-se mais
suaves e a paisagem dos caminhos que passamos com a lentidão do nosso próprio
esforço fez valer apena cada suor, cada parada, cada resgate dos cenários percorridos.
Os caminheiros estão em todo lugar,
sedentos por Paz, por Liberdade, por Saúde e Educação, mas saiba você que sem
os valores básicos da vida que estamos resgatando em nosso próprio lar com essa
parada, com a caminhada que estamos fazendo pelo nosso bairro; nada será
possível fazer, apenas porque hoje muitos não sabem que são, de onde vem e para
onde vão.
Um velho filósofo falava que não podemos
conhecer ao outro se não nos conhecemos intimamente, hoje a vida é um turbilhão
de coisas e isso se torna tão difícil como reconhecer no borrão da paisagem que
passa pela janela de nosso meio de transporte a essência da vida.
Aos caminheiros meu desejo que não deixem
a caminhada se tornar mais uma vez coisa do passado, pois nesses caminhos que
vida nos coloca temos que ter o tempo do tempo, o tempo de resgatar nossos
valores mais próximos, aqueles que estão ao nosso e perdemos porque queremos o
mundo e nos esquecemos de nós mesmos.
A caminhada é parte da conquista de cada
pedacinho do objetivo, mesmo que ele esteja muito à frente.
Vitor Marques