29/05/2018

A GREVE DOS CAMINHONEIROS RESGATOU OS CAMINHEIROS



Nesses dias de crises são acentuadas nossas vulnerabilidades, a greve dos caminhoneiros acentuou a fragilidade do abastecimento e da dependência do cidadão dos meios rodoviários, da distribuição de alimentos, dos combustíveis e outras coisas mais. Ressaltou que trem só tem em Minas Gerais, afinal lá tudo é trem.

Podemos falar e falar sobre isso com laudas e laudas de texto, expondo reclamações, conceitos políticos e econômicos, podemos colocar na berlinda pessoas, sistemas de gestão e muito, muito mais, mas não é meu objetivo com esse artigo.

Vou falar dos caminheiros, não dos motoristas (seja de qualquer veículo) que estão sem seu precioso veículo de locomoção e perpetuação do marasmo fisiológico, do instrumento para produção de barrigas protuberantes, da produção de artrites, artroses e outras coisinhas mais.

Quem são os caminheiros? Somos todos nós que no impedimento de utilizar nossos veículos nos colocamos a resgatar o caminhar, redescobrimos que a padaria, o supermercado não é tão longe assim, que caminhar faz você apreciar a paisagem com mais cuidado, que há pessoas pelo caminho e que você nem sabia que existiam. Nesses dias você reencontrou seu vizinho, aquele amigo que há muito não via porque não dava tempo de vê-lo no borrão do deslocamento com seu veículo.

Os caminheiros, que somos todos nós, redescobrimos aquela casa, a praça, o jornaleiro que fez parte de nossa infância ou de nossos anos passados.


Na arte do caminhar resgatamos um pouco de nossa saúde e as artrites e artroses até se aliviarão, vão perder a força porque serão trocadas pelo prazer do caminhar, do resgatar nossa memória geográfica de onde vivemos e como chegamos lá.

Nada de ir conhecer paisagens distantes, de ir almoçar ou jantar em bonitos restaurantes, o que fizemos nesses dias foi cozinhar, imagina, descobrimos que isso é possível! Fazer nossa própria comida, escutar seu próprio coração, ter tempo para você e seus familiares.

Tiramos do porão a bicicleta, mesmo que no começo das pedaladas tivéssemos que redescobrir o equilíbrio, descobrimos que a máxima de quem sabe andar de bicicleta jamais esquece é verdadeira. As primeiras pedaladas foram difíceis, mas no decorrer do tempo tornaram-se mais suaves e a paisagem dos caminhos que passamos com a lentidão do nosso próprio esforço fez valer apena cada suor, cada parada, cada resgate dos cenários percorridos.

Os caminheiros estão em todo lugar, sedentos por Paz, por Liberdade, por Saúde e Educação, mas saiba você que sem os valores básicos da vida que estamos resgatando em nosso próprio lar com essa parada, com a caminhada que estamos fazendo pelo nosso bairro; nada será possível fazer, apenas porque hoje muitos não sabem que são, de onde vem e para onde vão.

Um velho filósofo falava que não podemos conhecer ao outro se não nos conhecemos intimamente, hoje a vida é um turbilhão de coisas e isso se torna tão difícil como reconhecer no borrão da paisagem que passa pela janela de nosso meio de transporte a essência da vida.

Aos caminheiros meu desejo que não deixem a caminhada se tornar mais uma vez coisa do passado, pois nesses caminhos que vida nos coloca temos que ter o tempo do tempo, o tempo de resgatar nossos valores mais próximos, aqueles que estão ao nosso e perdemos porque queremos o mundo e nos esquecemos de nós mesmos.

A caminhada é parte da conquista de cada pedacinho do objetivo, mesmo que ele esteja muito à frente.

Vitor Marques
 Executivo de RH, Conselheiro de Carreira e Palestrante

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"  NÃO SEI SE SEI, MAS DE TUDO O QUE SEI ASSUMO NÃO SER IGNORANTE INCLUSIVE SABER QUE NADA SEI" (Vitor M S Marques)