No mar quando um mergulhador desce a
mais de 40 metros de profundidade não pode retornar a superfície naturalmente,
terá que passar por uma técnica chamada “descompressão”, seja ela mecânica
(Câmara Hiperbárica) ou subindo gradativamente a superfície, fazendo paradas em
diferentes níveis de profundidade e por tempo determinado. Se não realizar um
desses procedimentos, a descompressão rápida esse mergulhador que tem nitrogênio
dissolvido no sangue e nos tecidos, devido a uma pressão elevada (A pressão de
que falamos é o “peso da água” sobre seu corpo) forma bolhas quando a pressão
diminui, se ele subir à superfície rápido demais, esse nitrogênio muda de
forma súbita novamente para o gasoso, formando bolhas, o que pode causar
embolias e a morte.
Assim, com esse procedimento dos mergulhadores de alta
profundidade em mente, imaginemos as pessoas que ficaram seis meses em
confinamento, convivendo consigo mesmo, com alguns familiares, com o fantasma
de uma doença contaminante e com desejos reprimidos de liberdade que nesses
dias estava impedida de exercitar.
As dúvidas da própria sobrevivência e daqueles que se ama, as
dúvidas de como economicamente seria cada momento, a constatação da
incapacidade que mesmo com dinheiro em conta não se conseguia ter a garantia de
que os recursos mínimos seriam sustentados, a incapacidade de saber que não se
conseguiria proteger aos outros e talvez nem a nós mesmos – tantas incertezas,
tantos medos a administrar.
Agora a situação se inverte, as autoridades sanitárias dizem
que tudo está passando, mas foram tantas incertezas de que a maioria não sabe
se isso é verdade, se podemos realmente nos libertar das amarras da quarentena,
da prisão de nossa consciência.
Tantos falam em um mundo novo que se criou a partir de agora,
tantos apregoam que tudo irá mudar – mas continuo vendo o mesmo por onde
consigo caminhar, vejo que a descrença, a falta de educação, o desrespeito ao
outro, a falta de carinho e tantas coisas mais continuam a se perpetuar mesmo
de pois da quarentena, esperava eu que essa quarentena realmente mudasse as
pessoas mas ao que parece só fez com que elas cultivassem seus egocentrismos,
seus preconceitos, o pensar somente em si mesmo, o deixa que lá fora as pessoas
“se explodam” desde que eu aqui esteja bem.
Imaginava eu cantar com força as palavras de Vanusa na música
“Manhãs de Setembro”, cantado o refrão com força de libertação:
·
“...Eu quero
sair; Eu quero falar; Eu quero ensinar o vizinho a cantar; Eu quero sair; Eu
quero falar; Eu quero ensinar o vizinho a cantar; Nas manhãs de Setembro...”
Mas o que continuo a perceber é que
a outra parte da letra dessa música continua a expressar os fatos mesmo após a
quarentena, de que a sociedade imbecil em que vivemos continua agir como é
expresso no resto das palavras da letra. Que nós não aprendemos a fazer a
DES-Quarentena, que podemos nos afogar em nós mesmos enquanto nos comportarmos
como a música descreve:
·
Fui eu
que se fechou no muro e se guardou lá fora; Fui eu que num esforço se guardou
na indiferença; Fui eu que em numa tarde se fez tarde de tristeza; Fui eu que
consegui ficar e ir embora; E fui esquecida (a fé, a liberdade, a
igualdade, a esperança, a esperança, a ética); Fui eu;
Apesar da música ter sido escrita
a tanto tempo retrata as dificuldades da quarentena, o grito de liberdade que
queremos e precisamos obter, remete a realidade pela qual passamos e estaremos
passando, me traz a certeza de que vários sentimentos da quarentena permanecem
nessa DES-Quarentena e infelizmente não tem prazo para terminar nos levando ao
limbo das incertezas, a dúvida de que não basta pararmos e pensar, talvez como
muitas crenças falam seja necessário “passar a régua” e começar tudo de novo.
Mas nem tudo está perdido, creio
com força de que muitos e muitos aprenderam suas lições na quarentena, que
muito retomam os valores simples da vida, que muito serão mais felizes, voce
que lê esse artigo é um deles – tenho certeza.
Que sejamos fortes, livres e que
mantenhamos nosso foco no outro, na ajuda ao próximo, na fé de que somente
viver simples traz a felicidade de receber um abraço, um desejo de bom dia e a
esperança da liberdade plena.
Até mais e que você tenha uma
excelente DES-QUARENTENA
Vitor Marques - Executivo de
Recursos Humanos e palestrante
setembro/2020
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